Aí ... mas de que serve imaginar
Regiões onde o sonho é verdadeiro
Ou terras para o ser atormentar ?
É elevar demais a aspiração,
E, falhado esse sonho derradeiro,
Encontrar mais vazio o coração.
Fernando Pessoa, in Soneto XXXIV
...percorrer nas almas de quem vai passando. Eu sou a inchada “
Quando a coragem começa a
regatear os medos da falta de amor, os medos do desconhecido, as angústias da
morte, a solidão e a sensação de ter algo ainda para fazer...
“Realmente sinto-me só neste universo gigantesco” repetia-me sem
cessar. Mas a ideia motora que persistia naquela cabeça era sempre a mesma
_”Sê realmente quem tu és”.
Quem sou eu aqui e para quê?
Questões que em cuidados
palliatives se enfrentam como grandes gigantes no Ser Existencial.
“Mas que posso eu contra este adversário desigual em que apenas sou árbitro,
pensava com os meus botões.
Nada posso.
Finalmente não me pedem grande
coisa apenas que dê aquela parte de mim que me é desconhecida
Não será difícil ser fiel aos votos que nada exigem.
Pensando bem, será que acompanhar
um paciente em estado terminal no caminho do Espírito nada exige? As
dificuldades da passagem para a outra margem são tantas, muros levantados,
caminhos barrados pedregulhos imensos no chão que pisam, sem contar com os meus
próprios fantasmas:
“Se o que tens que fazer é ser quem és, tu és”
Tanta dor! Dor de quem? A minha,
a deles ou a nossa?
Questões sem sentido, mas analisando bem, vamos alcançar primeiro o sentir
e o remédio maior é perceber verdadeiramente o que se sente.
Nascer morrer, noite e dia
São tão semelhantes na sua essência
Como o viver a vida.
A luz do Teu olhar
Ao sabor da alvorada
Vem em mim sempre a dor aliviar
Deito os olhos sobre o teu labirinto
Ligado ao firmamento fica o sentimento.
A brisa ligeira que invade o Ser
E o vento arrasta-o
Para um novo amanhecer.
Mesmo quando tudo parece virtual
Até quando o bem parece mal
A vida continua...
Já o caminho se torna fútil.
Compreendi e passei ao Essencial
Pois a vida é trivial.
Caminhei, lutei, suei, sonhei e deliberei
Eu sei que a vida continua...
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