Aí ... mas de que serve imaginar
Regiões onde o sonho é verdadeiro
Ou terras para o ser atormentar ?
É elevar demais a aspiração,
E, falhado esse sonho derradeiro,
Encontrar mais vazio o coração.
Fe toda a sabedoria que aprendemos
nos livros fica-se ali desmaiada perante algo maior que nós.
Ficamos como que parados na
viagem, para a eternidade. Apenas se viu a paisagem de relance.
Viveu-se sem sentido nem rumo.
Não se apreciou o barulho da água
que corriam nos rios nem nos riachos... as gotas transparentes não foram
identificadas.
Não se
conseguiu ler o livro das pedras roladas.
Lembro-me daquele Senhor Manuel que tinha o livro de poemas escrito e
queria entregá-lo á família para que fizessem o que quisessem. O seu sonho era
que fosse editado.
Se bem me lembro o último poema que escreveu foi:
“Neste rio que é a vida
As águas passam
E
As pedras negras ficam
Porque as águas
Não as conseguem lavar.”
Este Senhor só soube que tinha um
cancro quando estava mesmo no fim do percurso, a família tinha ocultado o
facto.
Soube-o por um amigo ao telefone.
Eu como enfermeira fui
confrontada com este problema.
Senhora enfermeira tenho um cancro?
Disseram-me que vinha para uma
casa de repouso.
Muitas vezes os familiares pensam
proteger os seus omitindo-lhes a verdade, mas eu aconselho sempre a que a
verdade seja dita.
No momento certo, com palavras
certas e sobretudo com muito amor e carinho.
Se os familiares se sentirem inseguros para dizer a verdade ao doente,
o médico enfermeiro ou alguém poderá fazê-lo.
Em cuidados paliativos é muito importante ser-se verdadeiro e trabalhar
sempre com a verdade, como em todos os serviços mas aqui especialmente.
Também há casos de pacientes que não querem ser informados da verdade.
Lembro-me de alguém que dizia sempre:”se eu tiver um cancro nunca quero saber,
prefiro morrer na ignorância.”
O seu pedido foi respeitado e nunca lhe foi dito que tinha um cancro.
Verdade foi com ela? Ficou? O respeito pelo seu pedido foi a maior das
verdades.
O tempo passou e ninguém mais se lembrou, de que havia violetas a crescer
e a florir na Primavera.
Viu-se o dia e a noite, mas
apenas se conseguiu identificar a o Sol e a Lua, a noite ficou sem estrelas e
sem luar, tornou-se mais longa que o dia e o Sol que tanto mérito teve acabou
por filtrar a sombra e finalmente queimou os cordões da vida que agora se
encontra apenas presa por um fio.
Penso naquele paciente que vendo
aproximar a morte se lembra que tem algo ainda para fazer, queria falar com a
filha, que não reconheceu durante a vida.
Ai a morte...
Move-se no Outono que chegou com as folhas amareladas, cai como os
sonhos dependurados por alfinetes nos cordões do tempo.
O tempo está a passar, ainda há
tempo no tempo e o aqui e o agora, o presentemente é diferente, está num feixe de vento que pressa
sussurrando os segredos da Eternidade, em que as vozes são os pensamentos, dos ais
das não ditas palavras.
Eu como enfermeira digo-vos que as pedras de canto desta ponte de
passagem para a outra margem são o AMOR e a PAZ sei que pelo amor todas as
portas se abrem.
A Dra. Maria Goretti Sales Maciel, diz-nos
que o conceito de dor hoje mundialmente usado é o da
Associação Internacional de Estudos da Dor (IASP).
Ela afirma que a dor é uma experiência sensorial e
emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou descrita em
termos de tal dano.
Este conceito avança na direcção de admitir que a
dor é uma experiência única e individual, modificada pelo conhecimento
prévio de um dano que pode ser existente ou presumido.
Eu acho que definir conceitos é complexo, é mesmo muito difícil e quase impossível
porque a meta final é o infinito, o espiritual,
“é aquilo que não vejo mas constato
os resultados.”
Sinta a eloquência das palavras e irá compreender os factos.
“Admitir a
importância do alívio da dor desde o início do tratamento de uma doença até às
últimas horas de vida é condição fundamental para todos os que trabalham
com doentes em qualquer especialidade. O conhecimento do seu controle deve ser
parte da formação obrigatória de todos os profissionais da área de saúde. Sobretudo
do médico, responsável pela prescrição de medicamentos imprescindíveis para o
seu alívio.”
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