HÀ UMA BARCA NO RIO
Quando cortei os cordões da vida ela desatou a correr, ficou presa por um triz
Eu dependurada na evidencia dum momento único, olho o vai e vem das águas
E as letras deslizam á frente dos meus olhos como quem solta palavras da tua boca e a água sussurra-me baixinho «O tempo passa».
Mas vai dar tudo certo
Tão Próximo do rio sentada na margem direita, olho as folhas de outono que deslizam à frente dos meus olhos como se dançassem para mim.
E me trouxessem de volta as primaveras floridas e os Verões escaldantes.
Tento parar o tempo, desamarrar a barca e deitá-la ao rio só para transportar a saudade que já não cabe dentro de mim.
A nostalgia envolve-me, mas eu recuso-a e desato as cordas da saudade, faço um voo retrogrado nos braços do tempo e…
A Barca toca-me de tão perto tal como Gil Vicente na barca do inferno…
Mas apraz-me falar da vida, subir degraus e descer escadas, penetrar e mergulhar neste rio que me leva naquela barca parada em que me sento e descanso.
Ouve-me oh rio e fala-me baixinho.
Quando o teu curso for no sentido do Amor infinito
Para, interrompe os teus meandros  limita-te a apreciar o momento, o segundo o tempo e apenas guarda esta frase
O tempo é o escultor da natureza e é o meu escultor aquele que me facciona as arestas na escola da vida aquele que vai alargando as minhas margens o meu olhar  e me alarga o horizonte.
Neste momento em que paras frente ao bosque dos teus sentidos abres  o teu caudal V...VAI E VEM ... o, a sei lá quem tanta gente.
Paraste no agora, olhas e vês coisas que nunca tinhas reparado, já tinhas passado por lá tantas vezes...
E no tempo, dando tempo ao tempo que é teu, no meu no teu e no nosso, vejo-te ao longe distanciando a minha miragem, sinto-te na proximidade das folhas que vão caindo e pateteando o solo que nos acolhe.
Na imensidão do mar dos meus sonhos cada vez mais acordados, as folhas dispersam-se no  lrio, escritas  com a  tinta da Primavera, do Verão e chegam enfim  desenhadas no outono com as penas da recordação, mudando sempre de cor nestes humildes tons amarelados, avermelhados e rosado tornando-se no eu castanho da terra mãe. Húmus da fertilidade no Inverno que vier.
As folhas secas vão rodando á minha volta dançando uma última valsa...
E o rio leva tantas.
Sei o que as faz mover, é o sopro do vento que eu não vejo, mas sei que está em movimento.
Apanhar o vento? Esvaziar rio?
Parar as folhas? E o rio lá vai murmurando a saudade.

Finalmente pensando bem. Não vi o Tempo, Não vi o Vento.
Vi apenas as primaveras, floridas, os Verões escaldantes com risos apaixonados e outono com cores maravilhosas se com frutos para colher.
O INVERNO?
Esqueci...
E AGORA?
O Rio não para aqui.
Utilia Ferrão
In HÁ UMA BARCA NO RIO


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